Na noite de hoje encontramo-nos para o quinto encontro do Círculo de Leitura e de Produção Escrita, especialmente hoje na sala do Laboratório de Línguas.
A proposta foi a de, durante uma hora, continuarmos o ritmo de leitura de contos que lidam com a descrição minuciosamente. E, se nos encontros anteriores lemos e conversamos sobre alguns contos de Machado de Assis (e a descrição de personagens - psicológica, principalmente - possíveis de serem lidas) e de Lucia Bettencourt (e a descrição cuidadosa de algumas ações e atmosferas criadas em seus contos), no encontro de hoje nos concentramos na leitura de três contos do livro "Morangos Mofados", de Caio Fernando Abreu (contos "Diálogo", "Pela passagem de uma grande dor" e "Luz e sombra"), ficando um conto ("O dia que Júpiter encontro Saturno (Nova História Colorida)") para ser lido em casa pelos participantes.
A primeira observação registrada, antes mesmo de lermos os contos, foi sobre a formação do livro "Morangos Mofados". Sua estruturação. A divisão em três capítulos (sendo o último com somente um conto, que dá título ao livro), com os dois capítulos primeiros sendo "Mofo" e "Os morangos". E novamente tivemos um olhar para as dedicatórias, algo já observado nos livros da Lucia Bettencourt, e que se torna marcante também neste livro do Caio F. Abreu, pela quantidade de dedicatórias, seja nas divisões de capítulos, seja em cada conto.
A escrita do autor, neste livro, retrata a década de 70 e todas as transformações sociais, políticas, econômicas e culturais vivenciadas durante aquela época. Há uma atmosfera de dor e de solidão nestes contos. Uma busca pelo ser humano, pelo interior de ser um humano. E a descrição de Caio Fernando Abreu é tão rica nestes contos que, durante a leitura dos mesmos, nós, do grupo, sentimos de maneira muito forte essa atmosfera descrita, de solidão, de um desespero silencioso e longo, angustiante. Inclusive as leituras dos contos, principalmente no começo do encontro, naquele primeiro contato com o texto, deram-se bastante cadenciadas, quase que arrastadas, como "pedia" o texto, o conto. Um exemplo de como cada texto "impõe" uma forma de leitura ao sujeito-leitor (basta pensarmos os contos dialogados do livro "A cabeça", do Luiz Vilela, e estes contos do Caio Fernando Abreu).
A partir destas leituras - "relacionando" as descrições presentes em Machado de Assis, Lucia Bettencourt e Caio Fernando Abreu - a proposta de escrita para o grupo - aproveitando o período de pouco mais de um mês sem encontros - é a de contos que primem pela descrição cuidadosa, seja de personagens, seja de ações ou de espaços e atmosferas, densas ou não, ou de todas essas características numa mesma narrativa.
É hora de rabiscar pra valer!
Ítalo Puccini, pesquisador mediador.
Ítalo Puccini, pesquisador mediador.