Na manhã de sábado, 19, encontramo-nos para mais um encontro do Círculo de Leitura e de Produção Escrita, na sala do Lappe, das 9h às 11h da manhã.
Conforme havíamos combinado no encontro anterior, trouxemos novamente o material com alguns contos do livro “50 contos de Machado de Assis”, organizado por John Gledson. E foi com um conto machadiano que iniciamos a leitura deste quarto encontro do grupo.
Lemos “A cartomante”. A história de Vilela e Rita e Camilo. Ou de Camilo, Rita e Vilela. Um conto descrito de maneira riquíssima. Personagens escancarados ao sujeito-leitor. Um triângulo amoroso. Em cheque, a questão da crença. Seja em uma cartomante, seja em um amigo ou mesmo na própria esposa. A cartomante descrita por Machado é uma personagem sinistra, que apesar de não ter nem o seu nome revelado, destaca-se como um personagem que ludibria os personagens principais. Rita crê que a cartomante pode resolver todos os seus problemas e angústias. Camilo, já no fim do conto, quando está prestes a ter desmascarado seu caso com Rita, no ápice de seu desespero, recorre a esta mesma cartomante, que por sua vez o ilude da mesma forma como ilude todos os seus clientes, inclusive Rita.
Então, passamos a uma outra leitura de uma outra "A cartomante". Um outro conto, de mesmo nome, do livro "A secretária de borges", da escritora Lúcia Bettencourt. Um conto riquíssimo na descrição não só dos personagens, mas das ações e dos espaços situados na história (talvez mais destes do que dos personagens em si). O leitor fica se perguntando quem é o "ele" da história. O "ele" que procura por uma cartomante. E o leitor percebe, tal qual em Machado, a obviedade dos dizeres da cartomante. E percebe mais. Percebe uma diferença de final para os dois textos. Se em um temos um final brusco e bem definido, em outro nos deparamos com um final que nos leva à teoria de Piglia, das diversas possibilidades de finais de narrativas, que ficam a critério do leitor definir.
E, para sentir mais de um conto riquíssimo em descrições, partimos para a leitura do conto "O inseto", presente no mesmo livro. Um conto envolvente. Uma possibilidade de releitura para "A metamorfose", de Kafka, por exemplo. Se neste temos um humano que acorda como barata, naquele deparamo-nos com uma barata que se humaniza. E, como leitores, somos envolvidos por esse humanizar-se. Pela presença de um inseto. Depois, de um homem. E não conseguimos nos separar da personagem feminina que encara de frente esse inseto-humano. Fica-nos o olhar de leitor-curioso, do que ela fará, do como ela agirá, ou do porquê deste ou daquele jeito ela agiu. Somos envolvidos por uma narrativa cuidadosamente descrita e construída num tom de mistério. E fomos, então, levados a leituras outras, como a de "A paixão segundo G.H.", da Clarice Lispector, aquele encarar a barata, matá-la e a partir daí tudo se desenrolar. Leituras que se cruzam em um grupo.
Por fim, os participantes ainda levaram para casa o conto "Segredos da carne", do mesmo livro, e "A predadora", do livro "Linha de sombra", da mesma autora. Sem contar o desafio de produzirem, a partir de agora, um conto que prime pela riqueza de detalhes, pela descrição cuidadosa, seja de personagens, de espaços, de ações, e pelo tom misterioso conduzindo a história.
Ítalo Puccini, pesquisador mediador.
Ítalo Puccini, pesquisador mediador.
Adorei, adorei!
ResponderExcluirBom por demais! Leituras gostosas. Proposta instigante, difícil. hehe
Gostei por demais também do "anexo" sobre dedicatória. Lindas demais, das mais explicativas até as mais breves! *-*
Até segunda 28! *-*
Ana
Ita,
ResponderExcluirMeu irmão, estou te esperando aqui em Barra Velha para nos falarmos, quando puder apareça aqui meu amigo.
Grande abraço.
Olha Ítalo, gostei muito de participar do 4º círculo, viu?
ResponderExcluirQueria te parabenizar pela escolha dos textos, todos muito bons. Inclusive os que lemos em casa.
Beleza então! Abraço!
Juliana