Sábado à noite, jogada na poltrona, ela reclama:
- Nada pra fazer, ô vidinha sem graça...
- Quer pedir uma pizza?
Pergunta ele atencioso, tentando consolar aquela carinha triste e desolada.
- Não, não é disto que estou falando – diz exausta, batendo as mãos nas coxas.
- Não?
- Não.
- Já sei, vamos comer fora?
-Mas você só pensa em programa de gordo?
- Eu só queria te ajudar. Ei, podemos pedir um X-salada, tirando o hambúrger, o resto é tudo saudável, que tal?
- Para. Não é isto que eu estou falando, Carlos – Diz ela levantando bruscamente da poltrona, fazendo gestos frenéticos – Eu quero algo emocionante, vibrante, entende? Uma aventura... Ah, Carlos, sei lá, você sabe do que estou falando...
-Não, não sei – diz ele, preocupado com sua ignorância.
Baixando a cabeça e voltando para a poltrona, ela se envergonha da rebeldia.
- Claro que sabe, esta rotina esmagadora...
- Não acho – diz ele, otimista e cheio de carinho – Sempre comemos algo diferente no fim de semana, se lembra da comida mexicana? Aquela foi de matar né?
- Dá pra parar de falar de comida?
- Foi mal, tava só ajudando...
De repente vem uma idéia, e ela volta a falar alucinadamente.
- Já sei, vai ter show na Notre hoje! É, isto...
- Ah, agora eu entendi. Se problema é com música, e não comida...
- Não, Carlos. Eu não tenho problema com a música. Eu quero sentir meu coração bater mais alto, adrenalina, sabe? Deixa pra lá, você não entende...
Já cansado de tanto tentar, ele se levanta e olha para a janela do apartamento.
- Claro que sei, meu amor. Quer maior adrenalina que isto? Agradar você num sábado às duas horas da madruga, é dose.
- Eu não pedi para você me agradar.
- E precisa pedir?
- Como se adiantasse alguma coisa...
-Tá bom, tá bom – diz ele, cansado – vamos na Notre, se arruma.
- Não fala assim comigo.
- Caramba, já concordei em ir, o que mais você quer?
- Quero sair, porra. Mas não assim..
- Assim como?
- Assim deste jeito, sei lá.
- Tá difícil. Se tu continuar empacando, eu vou pedir pizza.
- Eu preciso me arrumar, mas tô sem roupa. Não quero sair feia.
- Mas você é linda meu amor, eu te amo!
Ele a abraça carinhosamente, cheirando seus cabelos.
- Além do mais, preciso de maquiagem.
- Pra quê? Pra ficar velha mais rápido?
- Pra ficar parecida com a Pati. Uma vez você disse que transaria com ela, lembra? Porque ela tinha uma boca atraente, os olhos verdes...
- Para com isto amor, ela não é páreo pra você – preocupado – E aquilo era começo de namoro, eu falei porque você dizia que gostava de aventuras sabe, foi da boca pra fora...
Ela ergue a sobrancelha e lança um olhar desafiador.
- Eu anda gosto de aventuras, OK?
- Então tá! Vou pedir pra Pati trazer umas pizzas, pode ser calabresa?
- Carlos, não.
Balbuciou ela incrédula, enquanto Carlos procurava o celular no bolso da calça.
_ _ _ _ _ produção proveniente do segundo encontro do Círculo de Leitura e de Produção Escrita.
Bem interessante, Clari. Audacioso. Como você.
ResponderExcluirAbraços pessoal!